Moradores de rua alugam calçada ao lado de posto assistencial na Mooca
sexta-feira, 19 de julho de 2013Moradores de rua estão loteando e alugando espaços nas calçadas no entorno de um projeto social da prefeitura que fica sob o viaduto Bresser, na Mooca (zona leste de São Paulo). Segundo moradores ouvidos pela reportagem, o pagamento é feito com celulares, drogas ou dinheiro.
O Espaço de Convivência Tenda Bresser é um projeto da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social mantido na esquina das ruas Pires do Rio e Bresser. O espaço tem televisão, banheiros com chuveiros e kit higiene.
O entorno da Tenda Bresser chamou a atenção de moradores de rua interessados no lazer e nas ações sociais, como distribuição de comida, que acontecem com frequência no local.
Os “donos da rua”, muitas vezes aqueles que chegaram primeiro, cobram aluguel daqueles que querem se instalar nas imediações e receber os benefícios. A região está tomada por barracas de acampamento ou improvisadas com plástico, além de colchonetes e cobertores, que também bloqueiam as calçadas.
Na manhã desta sexta- feira, havia ao menos 30 barracas em um perímetro de 500 metros da tenda assistencial.
A Folha entrevistou um grupo de moradores de rua que confirmou o aluguel de espaço.
“Se quiser montar uma barraca lá tem que pagar. O pagamento pode ser feito com celulares, drogas e dinheiro”, conta um morador do albergue que não quis se identificar. Ele passa parte do dia assistindo TV na tenda.
A concentração de pessoas em situação de rua seria comum numa região central, mas moradores relatam que com a chegada da tenda a sensação de insegurança aumentou.
A aposentada Mariza Soares, 62, que mora há 20 anos no bairro, afirma que são muitos os casos de pessoas assaltadas na região. “Roubam celulares todos os dias.”
A tenda é rota dos alunos da Universidade São Judas, que pegam metrô na estação Bresser-Mooca. Segundo os moradores, não é incomum ver os alunos andando em grandes grupos. “Passar ali a noite sozinho é impossível”, completa Soares.
A região sempre foi marcada pela presença de moradores de rua, que buscam abrigo no albergue Arsenal da Esperança –o maior da cidade.
A presidente do Conselho Comunitário de Segurança Brás, Mooca e Belenzinho, Wanda Herrero, 57, diz que já encaminhou um ofício e um abaixo-assinado dos moradores à prefeitura denunciando o “aluguel da calçada”.
“As tendas são um desserviço à assistência social. O projeto é que está proporcionando essa situação de aluguel da rua”, diz a presidente.
Segundo ela, a região está sendo chamada de “retângulo do horror” pelos moradores.
“Estamos cercados por traficantes, assaltantes e usuários de drogas, que cometem seus crimes e depois se camuflam em meio aos moradores de rua”, diz o empresário Eder Tavarole, 40.
Para moradores, a passarela do Metrô e o pontilhão da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) no bairro facilitam a fuga de bandidos.
“É o lugar perfeito para assaltar e fugir, mas eles voltam. Fui obrigada a dar de cara com o homem que roubou meu celular uma semana depois, passeando pela rua”, diz a analista financeiro Danielle Carneiro de Sousa, 30, que afirma ter sido perseguida duas vezes nos mês passado, no que ela considera tentativas de assalto.
MUDANÇA
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social não quis comentar o assunto, mas afirmou que está em busca de um novo endereço para a Tenda Bresser.
Enquanto essa transferência não acontece, a secretaria diz que a população em situação de rua da região continuará sendo atendida no mesmo local, e que no entorno acontecem rondas diárias da Guarda Civil Metropolitana.
O espaço tem capacidade para atender até 300 pessoas por dia, acima de 18 anos, com filhos ou não, das 8h às 19h.
A população atendida é encaminhada para centros de acolhida, incluída em programas de transferência de renda, de capacitação para o mercado de trabalho e auxiliadas na obtenção de documentos e retorno à cidade de origem, diz a secretaria.
Fonte: Folha de São Paulo
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