Alunos reclamam de uso de droga durante aula vaga na Mooca
segunda-feira, 1 de abril de 2013Pais e alunos do 1º ano do ensino médio de uma escola estadual no Alto da Mooca, na Zona Leste de São Paulo, reclamam de problemas ocorridos durante aulas vagas. Estudantes afirmam que, na Escola Estadual Martins, Miragaia, Drausio e Camargo (MMDC), houve casos de uso de maconha dentro de sala durante aulas vagas.
As denúncias foram apontadas em mapa interativo do G1. Após um mês, leitores enviaram 410 denúncias relacionadas a escolas municipais, estaduais e federais na Grande São Paulo.
No caso da escola no bairro da Mooca, por meio de nota, a Secretaria de Educação informou que a direção da MMDC convocou os responsáveis por uma aluna para uma reunião “a fim de relatar o ocorrido e enfatizar a importância da parceria entre família e escola para evitar ocorrências semelhantes”. O governo do estado disse ainda que o quadro de professores na escola está completo.
A vendedora Simone Elen Madeira, de 34 anos, afirma que neste ano conseguiu transferir o filho da MMDC para um outro colégio também na região da Mooca. “[Se eu não conseguisse a transferência] Ele ia ficar sem estudar esse ano”, disse.
“Ele tinha muitas aulas vagas. Eu olhava o caderno dele e não via quase nada [de conteúdo]. Eu fiquei abismada porque não tinha prova, não tinha lição”, contou. “Ele contava que os alunos fumavam e escola, para mim, não é lugar para aprender malandragem.”
Maconha
Estudantes ouvidos pela reportagem contaram que alguns colegas aproveitam aulas vagas para fumar maconha dentro da sala de aula. De um grupo de 13 alunos que estudam na mesma turma, 11 disseram que os pais já tentaram, em vão, mudá-los de escola.
“Na semana passada fumaram maconha dentro da sala em uma aula vaga”, disse uma aluna. A mãe dela, que pediu para não ser identificada por medo de represálias, disse que a filha narrou o episódio em casa. “Eles estavam trancados na sala de sala de aula e não podiam sair no corredor para não fazer bagunça. Como ninguém sentiu o cheiro?”, indagou.
O relato do uso de drogas em sala de aula deixou a mãe de outra estudante ainda mais preocupada. Na semana passada, sua filha reclamou de ter visto um colega fumando maconha. “Eu a orientei a ficar na porta da sala ou no corredor”, disse.
“O clima está ficando muito pesado. Minha vontade era tirar minha filha da escola, mas temo que ela perca o ano letivo. Ela ficou até um pouco deprimida, porque é uma menina inteligente, esforçada. Vamos ver se até o meio do ano, a gente consegue uma transferência”, comentou.
Aulas vagas
A mãe da primeira aluna citada nesta reportagem que já pediu a transferência da filha para outro colégio – esse é o primeiro ano que a aluna estuda na Escola Estadual MMDC.
Segundo a mãe, durante a primeira reunião de pais, os responsáveis reclamaram das faltas frequentes dos professores. “A colega de sala da minha filha chegou a dizer durante a reunião que tem muitas aulas vagas, mas a direção não admitiu. Minha filha também fala isso.”
Segundo a Secretaria da Educação, o quadro docente da escola está completo. “A unidade dispõe de quatro professores eventuais, que cobrem licenças de até 15 dias e faltas pontuais de docentes titulares. De todo modo, o conteúdo ocasionalmente não ministrado é reposto para o integral cumprimento do calendário escolar”, diz a nota.
Indisciplina
Entre os alunos, são comuns relatos de indisciplina. “A MMDC é uma zona”, sintetizou um adolescente de 16 anos, que conseguiu transferência para outra escola da região. Estudantes ouvidos pela reportagem disseram que colegam chegam a pular o muro para escapar das aulas.
Na sala de aula, o ambiente tranquilo nem sempre é preservado. Durante uma aula, a reportagem flagrou estudantes conversando pela janela com uma aluna que deixava o colégio. “Todo mundo ouve música no celular sem fone de ouvido. Eu mesmo ouço funk dentro da sala”, reconheceu uma adolescente de 16 anos, do primeiro ano do ensino médio. “Os professores não conseguem colocar ordem. Chega uma hora que elas desistem fácil.”
Em relação à questão de indisciplina, a Secretaria da Educação afirma que “é importante destacar que a participação da família na vida escolar dos filhos é fundamental para conscientizar crianças e adolescentes sobre as boas práticas de cidadania”. A pasta ressalta que a escola possuiu um professor-mediador e sete agentes de organização escolar.
Os estudantes também disseram não ter acesso à biblioteca ou à sala de informática, que possui 13 computadores conectados com o programa Acessa São Paulo. A Secretaria de Educação afirma que o colégio possui também uma sala de leitura e um rico acervo de livros e periódicos.
Boa escola
Apesar das queixas feitas pelos colegas, um estudante do terceiro ano do ensino médio, do período matutino, disse à reportagem que considera a MMDC uma “boa escola”, porém, reconheceu que esse é o primeiro ano que terá uma professora de inglês.
“Nos dois primeiros anos, eram só professores eventuais”, declarou. Sua turma também tem aulas vagas. “Mas os professores dizem que têm uma declaração que justifica a ausência”, disse.
Para os pais ouvidos pela reportagem, a escola não permite aos alunos se desenvolverem intelectualmente como deveriam. “Acho que minha filha será muito prejudicada. Quando sair da escola, o que vai fazer da vida? Como vai prestar vestibular se não aprendeu nada?”, questionou uma mãe.
Fonte: G1