Mooca recebe espetáculo São Manuel Bueno, Mártir
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013O GRUPO SOBREVENTO, um dos mais destacados grupos brasileiros de teatro de bonecos, estreia na cidade de São Paulo o espetáculo “SÃO MANUEL BUENO, MÁRTIR”, no dia 17 de janeiro de 2013, quinta-feira, às 21h, no ESPAÇO SOBREVENTO (Rua Coronel Albino Bairão, 42). O espetáculo conta a vida do personagem Dom Manuel, um padre que carrega, como um estigma, a dúvida de sua própria fé e da própria existência de Deus. A peça tem ENTRADA FRANCA.
A peça é fruto do Projeto SOBREVENTO 25 ANOS: OBJETOS E IDENTIDADE, patrocinado pela Petrobras por meio da Lei de Incentivo à Cultura. O Projeto é desenvolvido desde meados de 2011 e viabilizou a manutenção da sede do Grupo, a apresentação do seu repertório, um Festival internacional, um Festival nacional e a criação deste novo espetáculo, além de sua temporada em São Paulo e circulação pelo país.
Primeira encenação do melhor romance de Unamuno
O texto foi escrito em 1930 pelo poeta, filósofo e escritor Miguel de Unamuno (1864-1936), reconhecido, não só pela qualidade de sua obra, mas também pelos sucessivos ataques à monarquia da Espanha. Nunca antes encenado, “São Manuel Bueno, Mártir” transformou-se em uma peça, dirigida ao público adulto, que conta a história de Dom Manuel (vivido por Maurício Santana), um padre que duvidava da vida após a morte e da própria existência de Deus. Através da narrativa confessional e em primeira pessoa de Ângela (Sandra Vargas), o texto embrenha-nos no drama íntimo do pároco, que está prestes a ser beatificado. Lázaro (Luiz Cherubini), irmão de Ângela, acaba de voltar dos EUA para a pequena cidade onde nasceu e tenta convencer Ângela a ir embora daquele lugar onde, segundo o personagem, “as mulheres mandam nos homens e os padres mandam nas mulheres”. Mas ela se recusa, convencida de que há questões a serem resolvidas por lá. A trama gira em torno do relacionamento desses três personagens: Ângela ganha profunda admiração e gratidão por Dom Manuel, que se transforma, de um mártir, em uma espécie de santo, apesar – ou justamente por causa – de sua dúvida e falta de fé.
Miguel de Unamuno: a fé cega e a faca amolada
Polêmico, Miguel de Unamuno (Bilbao, 1864 – Salamanca, 1936) foi filósofo, ensaísta, dramaturgo, romancista e poeta: sua obra literária gira em torno de três temas dominantes: o homem, a imortalidade e a Espanha. Paradoxal e contraditória, sua visão particular do mundo e a defesa apaixonada das suas ideias transformaram-no no centro de todas as polêmicas políticas e religiosas de seu tempo. Entre suas obras, destacam-se A Tia Tula, A Vida de Dom Quixote e Sancho e Niebla. Era praticamente uma versão real do próprio Dom Manuel: um cético, mas com muita fé; criticava a Igreja e a fé cega, mas defendia que não poderíamos ser totalmente descrentes. “Chegamos a um espetáculo muito simples e muito delicado. Não queremos, nele, fazer uma demonstração de virtuosismo; não queremos impressionar, surpreender; não queremos falar da força, da vitalidade, da modernidade do Teatro de Animação; mas expor as nossas dúvidas, as nossas angústias, as nossas questões, a nossa fragilidade. A dúvida – que é o cerne deste espetáculo e do próprio texto que lhe deu origem – é, para nós, a melhor contribuição que o Teatro de Animação pode dar ao Teatro e que nós, artistas, podemos oferecer ao público”, explica Luiz André Cherubini, ator e diretor do espetáculo.
Uma montagem muito pouco ortodoxa
A montagem realizada pelo Sobrevento é pouco ortodoxa. Acontece em uma arena ocupada por uma mesa redonda, que representa o mundo. No centro dela, bonecos de madeira estáticos, fixos, sem qualquer articulação, confeccionados pelo escultor Mandy. São pelo menos 30 bonecos que representam os personagens da trama e o povo da pequena cidade onde se desenrola a história. Os três atores-manipuladores, representando os personagens Dom Manuel, Angela e Lázaro, movimentam estes bonecos como se fossem peças de xadrez ou figuras de um presépio. A trilha sonora do espetáculo, realizada ao vivo, foi criada especialmente pelo pernambucano Henrique Annes, um dos fundadores do Movimento Armorial, virtuoso do violão recifense e que comemora os seus 50 anos de carreira. A música de Annes, que transita entre o erudito e o popular, é executada por três músicos, ao violão, violoncelo e bandolim. “Ao longo do espetáculo, as figuras (bonecos) vão perdendo a sua forma, se decompondo, ficando cada vez mais distantes do figurativismo original, como em um livro, molhado pela água. O jogo de movimentação das figuras lembra um jogo de criança ou às vezes uma maquete, mas não há uma manipulação propriamente dita ou uma técnica de animação”, diz a atriz Sandra Vargas. Os espectadores presenciam um jogo, invadem a intimidade da cena e formam um tipo de assembléia. O espaço cênico é uma espécie de poço escuro e o tampo da mesa é o próprio palco do espetáculo.
Esta é a 19ª montagem do Grupo Sobrevento, com 26 anos de carreira e um dos maiores expoentes brasileiros do Teatro de Animação. O espetáculo conta, ainda, com a delicada iluminação de Renato Machado, uma instalação cênica de abertura (que leva o nome de Povo Frágil) do renomado artista plástico italiano Antonio Catalano, ambientação e orientação cenográfica de Telumi Hellen, figurino de João Pimenta, preparação cenotécnica e mecanismos de Agnaldo Souza e encenação de Luiz André Cherubini, que atua no espetáculo ao lado de Maurício Santana e Sandra Vargas.
Serviço
O Que: São Manuel Bueno, Mártir
Datas: Estreia dia 17 de janeiro, quinta-feira, às 21 horas
Local: Espaço Sobrevento.
Saiba mais sobre os horários: De quinta a domingo – quintas e sextas, às 21h, sábados e domingos, às 20h –, de 17 de janeiro a 31 de março. Haverá sessões extras nos dias 23, 24, 30 e 31/03, às 18h.
Classificação Etária: 16 anos. 50 lugares. Não recomendado para menores de 16 anos.
Endereço: Rua Coronel Albino Bairão, 42 – a duas quadras do Metrô Bresser-Mooca.
Valor: Grátis